quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Páscoa, qual a sua perspectiva?

Antecedentes
Deus chamou Abraão, fez com ele uma aliança que continha promessas, dentre as quais, a de que ele seria uma grande nação e que seus descendentes herdariam uma porção de terra (Gênesis 12:1-3).
Deus lhe advertiu de antemão que, antes da concretização dessa promessa os seus descendentes experimentariam 400 anos de sofrimento e escravidão. Mas, Deus, informou também que iria abençoar esse povo e livrá-los da escravidão (Gênesis 15:13-14; Êxodo 12:41).
Posteriormente, essa aliança foi ratificada com Isaque, filho de Abraão (Gênesis 26:2-5), e com Jacó, seu neto (Gênesis 35:11-12). Jacó (cujo nome foi mudado por Deus para Israel), foi pai de doze filhos. José, um deles, trás na sua história (descrita nos últimos capítulos de Gênesis), o pano de fundo do inicio da narrativa de Êxodo.
Ele enfrentou a traição dos irmãos, foi vendido como escravo para o Egito, foi preso, sofreu muito, até que interpretou os sonhos do Faraó, os quais mostravam que haveria sete anos de fartura e sete de fome. Por conta disto José foi elevado à condição de vice-rei com a missão de suprir o mundo de alimentos no período de crise.
José levou seu pai e seus irmãos para morar no Egito. Após a sua morte, um Faraó que não conhecia a história de sua nação subiu ao trono e começou a oprimir o povo que um dia os havia salvado. Ele mandou matar todos os meninos recém-nascidos.
Deus salva milagrosamente um destes meninos, Moisés, e mais tarde o usa para ser o libertador deste povo.
Percebemos que em todo o tempo Deus está na gestão da história, e zela pelos seus, mesmo quando tudo parece perdido.
Estava nos planos de Deus libertar Seu povo. Ele já havia prometido! E quando Deus decide agir, nenhum homem ou demônio pode impedir. Pode até se opor, e neste caso Deus aproveita para demonstrar o seu poder, que tem uma dupla função: ensinar ao seu povo preciosas lições enquanto administra juízo sobre seus opositores.
Deus já havia enviado nove pragas, agora a última e decisiva estava por vir. Mas Ele não faz nada sem avisar, mesmo a incrédulos, para que tenham oportunidade de arrependimento e não tenham o que argumentar contra a justiça de Deus.
Nesta décima praga, morreriam todos os filhos mais velhos (os primogênitos), da casa de Faraó ao mais humilde servo e também dos animais. À meia noite, o "anjo da morte" passaria por todas as casas do Egito. Somente a casa que tivesse aspergido sangue nos umbrais e nas vergas das portas é que seria poupada, e o anjo não entraria para executar a sua missão. Esta "passagem" do anjo (no hebraico "pesah"), originou o nome da festa - páscoa.
Por não dar crédito aos avisos de Deus é que o incrédulo é punido e castigado. Vale lembrar que isto também aconteceu nos tempos de Noé, e acontecerá nos dias que vão anteceder o juízo final.

Deus faz distinção (11:7)
Deus faz distinção entre aqueles que são seu povo e os que não são. Mesmo estando entre os egípcios, o povo de Deus não era egípcio. Mesmo estando no mundo, o povo de Deus não é do mundo (João 17:17-16). Estão, mas não são; há algo que os diferencia. É igualmente verdade que há muitos que estão na igreja, mas, não são do Reino; estão entre os salvos, mas, estão perdidos; são como lobos no meio das ovelhas.
A bênção de um significa maldição para o outro. A prosperidade de um é o despojo do outro. O livramento de um trás castigo para o outro. O que para um é motivo de adoração para o outro é motivo de blasfêmia. Enquanto um se alegra e celebra, o outro geme e amaldiçoa.
Acreditar na palavra de Deus e obedecer as suas ordenanças é a marca do povo de Deus, enquanto a incredulidade, a obstinação e a rebeldia é a marca dos que não são.
Os que temem ao Senhor são abençoados e protegidos na mesma proporção em que os desobedientes e rebeldes são punidos.
Primeiro foi o povo de Deus quem gemeu debaixo da opressão dos seus adversários, e clamou pedindo livramento a Deus (2:23), e a Faraó (5:15). Agora, é a vez dos egípcios clamar e gemer diante do juízo divino (11:6).
Deus ouve o clamor do seu povo. Ele é o vingador do seu povo. Não se pode afrontar seu povo sem que esteja afrontando a Ele próprio. E quando Deus ou seu povo é afrontado, o juízo se torna iminente (1 Samuel 17; 2 Reis 19; Salmo 74:10).

O livramento (12:23)
Ao seu povo Deus providencia o escape, a saída, porque zela por ele.
O sangue nas vergas e umbrais da porta era o sinal de que naquela casa havia uma família que pertencia a Deus, ouvia sua voz, cria em sua palavra e lhe obedecia, sendo assim, era uma família que estava segura, debaixo da proteção e da cobertura da graça.
A cobertura do sangue não levava em conta os pecados pessoais, mas o fato de que aquelas pessoas estavam em aliança com Deus e pertenciam a Ele.
Passar o sangue era um ato de obediência, era um ato que indicava fé. Crer que Deus promete e cumpre. Crer que Ele honra a sua palavra de proteger aos seus enquanto o juízo é executado. Crer, a ponto de não deixar a proteção do sangue, e não sair de casa, senão pela manhã.
A páscoa por si mesma não era a redenção, mas o despertar da redenção, a indicação de que esta se aproximava. O povo de Deus deixaria o Egito como um exército vitorioso, carregando os despojos do inimigo (12:35-36).

O rico simbolismo
Somos enriquecidos com o simbolismo que a páscoa apresenta. Um cordeiro morreu no lugar de um filho na casa de Israel. Uma vida inocente foi sacrificada para que outra pudesse se salvar. Isto aponta para o sacrifício vicário de Cristo, o inocente morrendo no lugar do pecador. A morte de Cristo na cruz seria a vida da humanidade.
O cordeiro tinha que ser um macho de um ano, sem defeito, sem mancha, e não poderia ter nem um osso partido (12:46). Não é em vão que o Novo Testamento aponta para Cristo, nosso cordeiro pascoal, nossa páscoa, inclusive, cumprindo este detalhe (João 19:36; 1 Corintios 5:7).
As ervas amargas serviam para lembrar ao povo do amargor da escravidão. A escravidão é algo que deve ser amargamente relembrada. A liberdade é algo precioso. O Espírito de Deus dá liberdade, enquanto as forças das trevas escravizam (João 8:36; 2 Corintios 3:17). Israel jamais teria se libertado sozinho.
O povo deveria fazer os pães sem fermento e jogar fora todo o fermento que tivessem em casa. A ausência do fermento indicava pressa (não daria tempo à massa de crescer), eles deviam estar preparados e prontos para a liberdade. O fermento, símbolo da corrupção, ensina que eles precisavam romper com a cultura, a idolatria e os pecados do Egito (Mateus 16:12; Lucas 12:1; 1 Corintios 5:6-8). Eles deveriam abandonar e jogar fora estas coisas, inclusive do seu coração.
A páscoa marcaria para eles o inicio de um novo ano. Seu calendário religioso teria início com a páscoa. Sendo assim, a páscoa marca o começo da vida de Israel como nação e indica nova vida.
A páscoa é uma festa histórica que lembra os atos salvíficos de Deus. É uma festa de educação religiosa, que visava instruir as gerações futuras a crerem em Deus, a serem gratos e fieis a quem os libertou, a quem zela por eles os abençoa e protege.
A páscoa fazia os judeus relembrarem o maravilhoso livramento que Deus operou ao tirar da terra do Egito os seus antepassados após ter Ele matado os primogênitos dos egípcios. Mas tinha o propósito de servir de sinal daquela muito maior redenção e livramento da servidão ao pecado, que foi realizada por Jesus.
A páscoa relembrava aos judeus que a aspersão do sangue, nas vergas das portas das casas de seus antepassados, livrou-os da espada do anjo destruidor. Tinha por objetivo ensinar que o sangue de Cristo, aspergido sobre a consciência do pecador arrependido, purifica-o de toda mácula do pecado e livra o pecador da ira vindoura.
A páscoa fazia os judeus rememorarem o fato de que nenhum dos seus antepassados esteve isento de ser destruído pelo anjo, na noite em que ele matou os primogênitos egípcios, a menos que tivessem comido do cordeiro que fora morto. Todos que quiserem receber o benefício eterno da expiação efetuada por Cristo precisam alimentar-se dele, pela fé, acolhendo-o em seus corações.
No início, a páscoa era uma comemoração doméstica e familiar, sem templo, altar, sacerdote. O chefe da família era o sacerdote. Isto mostra a importância que a família e o lar tem nos planos de Deus. Ele incentiva a celebração e a adoração no lar.
Com o tempo, a páscoa passou a ser comemorada no templo, oficializada por um sacerdote profissional, e se tornou mais pública e formal (grupos se reuniam por consentimento, como Jesus e os seus discípulos, como uma família, para celebrar a páscoa). Este fato representa a igreja institucional de hoje em contraposição à igreja menos formal do passado, que se reunia nos lares para celebrar a Deus.
O grande ajuntamento do povo de Deus, a grande assembléia (hb. qahal), já era uma figura do ajuntamento da igreja (gr. ekklesia).
Houve uma guerra espiritual. Os poderes espirituais que estavam por trás dos símbolos adorados seriam derrotados e julgados como os egípcios (12:12). Então, a páscoa foi uma derrota não só para os inimigos humanos do povo de Deus, mas também do inimigo espiritual.

A última páscoa - a páscoa cristã (Lucas 22:7-23)
Um acontecimento tão importante como a páscoa, que deu origem ao início de Israel como nação, não poderia ser ignorada pelo Novo Testamento. Pelo menos cinco idéias estão claramente implícitas e podem ser aplicadas aos cristãos.
A morte de Cristo ocorreu exatamente no período da páscoa. A páscoa é uma festa exclusivamente judaica, os gentios foram excluídos da comemoração (12:43-49), mas a Ceia substitui a páscoa judaica. Assim, festejamos e relembramos a morte e ressurreição de Cristo. Nossa páscoa se chama Ceia do Senhor, ou como alguns preferem, "santa Ceia".
Houve uma conexão intencional entre o tempo da páscoa judaica e o tempo da morte de Cristo. Não foi por acaso, mas pela determinação providencial de Deus, que nosso Senhor foi crucificado na semana da páscoa e no dia exato em que o cordeiro pascal costumava ser imolado. O intuito disso foi o de chamar a atenção da nação judaica para Aquele que é o verdadeiro cordeiro de Deus.
O cristão, tal como os antigos israelitas, devem pôr de lado o fermento do pecado, da corrupção, da malícia, da desobediência, substituindo pelos pães asmos da sinceridade e da verdade (1 Corintios 5:7).
A última ceia foi inicialmente uma refeição pascal (João 18:28; 19:14). Após a refeição pascal, o Senhor instituiu o seu equivalente, ou seu substituto cristão. Ele é a nossa páscoa. Nos celebramos a ceia que relembra Cristo, o nosso cordeiro pascal.
A idéia de uma aliança, e do início de uma nova nação estão presentes. Cristo fez uma nova aliança, e, por meio da sua Igreja, dá inicio a uma nova nação, uma nova humanidade, composta de pessoas de todas tribos, línguas e raças, uma nação sem fronteiras.
Quanto ao êxodo cristão, certamente que éramos escravos do pecado, mas fomos libertos da escravidão para viver uma nova vida. Cristo é o que nos liberta da escravidão do pecado.
Portanto, se o cordeiro assado, os pães sem fermento as ervas amargas eram os símbolos da páscoa do judeu, o pão e o vinho é o símbolo da páscoa do cristão, resta pensar que os coelhinhos e ovos de chocolate são apenas símbolo do capitalismo.
Texto Original Igreja Batista de Betuel.


Conclusão
Eu te desafio a pensar na páscoa sobre a perspectiva dos egípcios. Você acha que a páscoa é um dia de festa para eles? Certamente que não! É um dia de luto e de tristeza.
A páscoa só pode ser comemorada por quem pertence a Deus, por quem lhe obedece e nele crê. Somente estes têm razões para celebrá-la.
Se você pertence a Deus, deve celebrar a páscoa. Deus quer que seu povo celebre, adore, comemore, festeje. Portanto, alegre-se, pois a sua redenção chegou.
Se você não pertence a Deus, deve se preocupar, pois, o juízo de Deus é iminente. Como você pretende escapar?
"E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo" (Hebreus 9:27). "Eis que o juiz está à porta" (Tiago 5:9).
Então, "bem-aventurados os que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro" (Apocalipse 22:14).